Efeito Mandela: significado, origem e 10 exemplos curiosíssimos dessa teoria

O Efeito Mandela é uma teoria que exemplifica a origem e o mecanismo de funcionamento de memórias coletivas falsas. Por exemplo: algumas pessoas se lembram de ter assistido ao filme Shazaam nos anos 90, estrelado pelo comediante norte-americano Sinbad. Mas o fato é que esse filme jamais foi gravado.

Por que tantas pessoas acreditam ter visto um filme chamado Shazaam nos anos 90?

Estes e outros exemplos de memórias coletivas falsas são encontrados em estudos de psicologia desde os anos de 1950, mas se popularizaram em anos recentes através da internet e ficaram conhecidas como Efeito Mandela.

O Efeito Mandela apenas revela como memórias falsas acabam se tornando senso comum através de relatos incorretos, notícias e imagens falsas e fazem com que um grupo maior de pessoas acreditem em um evento ou memória que simplesmente nunca aconteceu.

Origem da teoria do Efeito Mandela

O líder político sul-africano Nelson Mandela, falecido em 2013.

No início dos anos 2000, Fiona Broome, escritora e pesquisadora norte-americana de fenômenos paranormais, introduziu o assunto numa edição da Dragon Con, convenção nerd que acontece anualmente em Atlanta, nos EUA. Nessa conversa, Broome descobriu que ela não era a única que pensava que Nelson Mandela havia morrido na prisão nos anos 80. Outras pessoas que participavam do papo compartilhavam dessa mesma lembrança.

Vamos aos fatos: Mandela saiu da cadeia em 1990 e foi eleito presidente da África do Sul em 1994. Portanto, não morreu nos anos 80, como algumas pessoas pensam, mas em 2013, aos 95 anos.

E você? Também achava que o Nelson Mandela tinha morrido nos anos 80? Se sim, saiba que você não é o único.

Talvez tenha sido ela a cunhar o nome. Não se sabe ao certo. O fato é que em 2009, Broome criou um site dedicado ao assunto. Isso fez com que muitas pessoas passassem a compartilhar suas experiências de memórias alternativas. Em pouquíssimo tempo, a coisa viralizou na internet.

Como um grupo de pessoas pode se lembrar de algo que nunca aconteceu?

Apesar de Fiona Broome tentar fundamentar sua teoria em universos paralelos e outras teorias fantásticas, a psicologia já estuda a criação de memórias coletivas falsas há décadas.

Um dos primeiros estudos realizados sobre o assunto foi feito nos Estados Unidos no ano de 1954. Em um jogo de futebol americano quatro anos antes, duas universidades rivais se enfrentaram para uma partida que foi descrita como extremamente violenta, onde dois jogadores saíram lesionados do campo. O estudo psicológico realizou questionários com os alunos das duas universidades, no qual foi revelado que a maneira como eles se recordavam do jogo dependia da universidade em que frequentavam.

Para os psicólogos, o Efeito Mandela é exatamente isso: ele ocorre quando um grupo de pessoas acredita em algo que nunca aconteceu ou aconteceu de uma forma diferente devido à fragilidade da nossa memória. Ela pode sofrer distorções devido a diversos fatores, entre eles, o reforço social em que nos encontramos.

Muitos exemplos do Efeito Mandela estão próximos do que aconteceu na realidade, mas em uma versão distorcida. Uma maneira de pensar sobre isso é com o clássico jogo “telefone sem fio”. A primeira pessoa em uma fila sussurra algo no ouvido da segunda, que vai repassar a informação para a terceira e assim por diante. A última pessoa é a encarregada de revelar a informação original. Geralmente, esta informação será um pouco diferente da original, porque ela ouviu ou se lembrou da informação de forma distorcida.

Alguns médicos dizem que o Efeito Mandela é uma forma de confabulação. Um sinônimo para confabulação pode ser “mentira honesta”. Isso quer dizer que uma pessoa cria uma falsa memória sem a intenção de mentir ou enganar outros indivíduos. Essas pessoas estão, na realidade, tentando preencher lacunas em suas próprias memórias.

A confabulação é utilizada pelo nosso cérebro para “lembrar” do que achamos que aconteceu, mas não necessariamente a realidade.

Mas e o filme Shazaam?

A imagem real de divulgação do filme Kazaam, estrelado pelo ator Shaquille O’Neal em 1996, pode ser um dos motivos pelo qual as pessoas acreditam que um filme com nome parecido foi estrelado pelo ator Sinbad.

Muitas pessoas se recordam que o ator David Atkins, também conhecido como Sinbad, interpretou um gênio em um filme infantil chamado Shazaam nos anos 90. Contudo, este filme nunca existiu! Mas como isso é possível?

Esse erro pode ser explicado através de uma série de acontecimentos similares e imagens populares associadas à época que levaram as pessoas a criarem uma memória coletiva falsa.

Os fatos são:

1. Nos anos 90, especialmente nos Estados Unidos, o nome Sinbad estava associado a duas memórias: ao popular comediante que tem este nome e a um personagem marujo fictício que teve altas aventuras no Oriente Médio, onde em alguns episódios, um gênio aparecia.

2. Em 1994, o comediante Sinbad fez uma aparição na TV apresentando os filmes do marujo fictício.

3. Em 1996, o ator Shaquille O’Neal interpretou um gênio em um filme chamado Kazaam.

4. Um trailer do filme Kazaam pode ser visto em uma VHS antes de um outro filme infantil que estrelava Sinbad.

5. O estúdio de desenhos animados Hanna-Barbera tinha uma série animada sobre um gênio chamado "Shazzan" na mesma década.

Todas essas situações levaram um coletivo de pessoas a criarem uma falsa memória de que existiu um filme chamado Shazaam onde o comediante Sinbad interpretava um gênio nos anos 90. Agora ficou mais fácil de entender, certo?

Outros exemplos famosos do Efeito Mandela

1. Nelson Mandela morreu nos anos 80

Foi daí que surgiu a teoria. Tanto que ela acabou levando o nome do político sul-africano. Teoria da conspiração? Desinformação? Ignorância política? Quem acredita na teoria realmente acha que Nelson Mandela morreu enquanto estava na prisão, nos anos 80. Mas isso não teria acontecido na nossa realidade.

2. Leonardo DiCaprio ganhou um Oscar antes de 2016

Você acha que o Leonardo DiCaprio ganhou seu primeiro Oscar só em 2016, quando foi premiado pela atuação no filme O Regresso? Há pessoas que dizem se lembrar de outros prêmios antes desse. Seria mais uma experiência de Efeito Mandela?

3. O Pensador, de Auguste Rodin

A mão está apoiada na testa ou no queixo? Algumas pessoas juram se lembrar de que é na testa. Mero engano? Elas dizem que não. Talvez o escultor francês tenha esculpido assim numa outra realidade ou seja mais um exemplo de bug na Matrix, vai saber...

4. "Os fins justificam os meios", como disse Nicolau Maquiavel

Algumas pessoas garantem ter lido essa frase no clássico O Príncipe, publicado pela primeira vez em 1532. A verdade, no entanto, é que Maquiavel nunca escreveu essa frase, embora ela possa ser usada para sintetizar alguns aspectos do seu pensamento político.

5. Looney Toons ou Looney Tunes?

Esse exemplo é dado pela própria Fiona Broome em seu site. A famosa série de animação norte-americana se chama Looney Tunes, embora muitas pessoas jurem de pés juntos que se lembram do segundo nome ser Toons. Seria o Efeito Mandela mais uma vez em ação?

6. O que o Darth Vader falou para o Luke?

Alguns fãs de Star Wars dizem ter certeza de que a famosa frase dita por Darth Vader é "Luke, eu sou seu pai". Você também achava isso? Então saiba que pode ter assistido ao Episódio V em outra dimensão, porque a verdadeira frase é "Não, eu sou seu pai".

7. "Espelho, espelho, meu..."

Outro exemplo de Efeito Mandela, segundo os adeptos dessa teoria, é a famosíssima frase dita pela Rainha Má em Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney: "Espelho, espelho meu, quem é mais bela do que eu?". Talvez a Rainha Má tenha dito essa frase numa realidade paralela. Na nossa dimensão é e sempre foi: "Fala, mágico espelho meu: quem é mais bela do que eu?".

8. A faixa no rabo do Pikachu

Pois é. Até o Pikachu entrou no Efeito Mandela. Parece que muita gente jura se lembrar de uma faixa preta no final do rabo do personagem. Mas essa faixa nunca existiu!

9. "We are the champions... of the world"

Você sabia que a famosa música do Queen não termina com "of the world"? Se você pensava que sim, talvez tenha vivido a experiência do Efeito Mandela. O complemento "of the world" existe, mas no meio da música. Sua existência no final talvez seja um grande engano coletivo.

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