O que a humanidade perdeu no incêndio da Biblioteca de Alexandria?
A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais importantes bibliotecas conhecidas da história, onde foi coletado e produzido grande parte do conhecimento do mundo antigo. Além disso, ela serviu de inspiração para os modelos de universidade que temos hoje, além de abrigar a primeira escola de medicina do mundo.
A biblioteca foi construída no coração da antiga cidade de Alexandria, no Egito, sendo fundada no século 3 a.C por Ptolomeu II, um dos sucessores de Alexandre, o Grande.
Esse local, que serviu de centro de pesquisa e maior acervo da história e ciência antiga, foi destruído por um incêndio, que levou junto com ele grandes informações e conhecimentos da humanidade.
Conheça agora um pouco dos tesouros que havia na Biblioteca de Alexandria, e o que perdemos com sua destruição.
Como a Biblioteca de Alexandria se tornou o maior centro de conhecimento do mundo antigo?
Alexandre, o rei da Macedônia, e os reis que o sucederam consideravam o conhecimento como algo de extrema importância, apoiando fortemente a pesquisa e a erudição. Seus estudos e avanços na matemática e astronomia eram considerados grandes tesouros do seu império.
Com esse pensamento, foi fundada a Biblioteca de Alexandria, como parte de uma instituição de pesquisa chamada Mouseion. Inclusive, é dela que origina a palavra "museu", que usamos hoje.
Além do grande salão, onde eram armazenados os livros, havia dez grandes laboratórios de pesquisa na Biblioteca de Alexandria, assim como jardins botânicos, salas de estudo, observatórios astronômicos e um zoológico com espécies trazidas de diferentes partes do mundo antigo.
O local também abrigou a primeira escola de medicina do mundo antigo e foi uma inspiração para as universidades como as conhecemos hoje.
Porém, o maior destaque da Biblioteca de Alexandria era a sua vasta coleção de livros, constituída por exemplares das mais diferentes línguas e culturas.
O intuito de seus governantes era de que ela se tornasse a maior biblioteca já vista. Para isso, eram enviados agentes para comprar (ou roubar) bibliotecas em outras partes do mundo. Além disso, todas as embarcações que chegavam à cidade eram vasculhadas pelas autoridades, e os papiros encontrados nelas eram copiados. Essas cópias eram devolvidas aos seus donos, enquanto os originais eram enviados para a biblioteca.
O que a perda da Biblioteca de Alexandria representou para a humanidade
Por causa do incêndio que a destruiu, é difícil estimar a quantidade de livros que existiram na biblioteca. Porém, acredita-se que entre 500 a 700 mil rolos de papiro já fizeram parte do acervo da Biblioteca de Alexandria. Para isso, cerca de 100 funcionários trabalhavam em seu funcionamento.
Após a destruição, apenas alguns fragmentos conseguiram ser recuperados. Esses trechos nos fazem ter uma noção de quanto conhecimento foi perdido para sempre e do que as gerações seguintes, incluindo a nossa, foram privados.
Por exemplo, existem resquícios de que Aristarco de Samos havia escrito ainda no século III a.C que era a Terra que orbitava em volta do Sol, assim como outros planetas. Foi preciso cerca de dois mil anos para que Nicolau Copérnico redescobrisse o heliocentrismo, apresentando sua ideia em 1530.
Outro exemplo seria a pesquisa de Heron de Alexandria, que criou um primeiro modelo de motor a vapor cerca de dois mil anos antes de James Watt.
Mistérios do passado, descobertas científicas e o processo como esses estudiosos chegaram às suas conclusões se perderam para sempre com o incêndio. E além das descobertas sobre astronomia, matemática e registros históricos, também havia técnicas de medicina que, se não tivessem sido perdidas, teriam sido muito úteis no desenvolvimento dessa ciência.
Grandes nomes da Biblioteca de Alexandria
Como vimos, além do grande acervo de livros com conhecimentos de todo o mundo, em seus centros de pesquisa estiveram grandes nomes da astronomia, matemática e outras áreas do saber.
Entre eles, podemos destacar:
- Eratóstenes, o bibliotecário-chefe de Alexandria, foi o primeiro a medir a circunferência da Terra.
- Hiparco, considerado pai da astronomia, foi quem mapeou as constelações e mensurou a magnitude das estrelas.
- Euclides, considerado o pai da geometria.
- Ptolomeu, um dos maiores astrônomos de sua época, foi quem criou uma base para o que conhecemos hoje como astrologia.
- Herófilo, pai da anatomia e fundador da escola de medicina, identificou que o cérebro era responsável pela inteligência, e não o coração.
- Dionísio da Trácia foi quem organizou o esquema de oração que utilizamos hoje, com verbos, pronomes, substantivos etc.
- Hipácia: astrônoma e matemática, foi chefe da escola platônica de Alexandria.
Muitos destes tiveram grande parte de seu conhecimento e pesquisas perdidas para sempre. Podemos citar o caso de Euclides como exemplo, visto que atualmente só temos acesso a cerca de 50% do seu trabalho. Apesar disso, o pouco do que nos sobrou da Biblioteca de Alexandria foi essencial para o desenvolvimento futuro das mais diversas áreas do conhecimento.
E quem foi o responsável pela queda da Biblioteca?
A destruição da Biblioteca de Alexandria é um dos seus maiores mistérios. Pela falta de registros arquitetônicos e vestígios arqueológicos, muitos historiadores defendem a hipótese de que ela foi alvo de um incêndio. Porém, ainda não há um consenso sobre quem o teria iniciado, e se esse teria sido realmente a causa de sua destruição.
Uma das principais teorias defende que Júlio César teria sido o causador do incêndio, durante uma perseguição a Pompeu no século 48 a.C.
Quando César se viu cercado por frotas egípcias, ordenou que ateasse fogo nos próprios navios, a fim de bloquear o caminho de seus inimigos. Esse fogo teria se alastrado rapidamente, chegando também à cidade. Segundo Lucano, um poeta romano, o incêndio teria atingido a Biblioteca e queimando parte de seu acervo.
A invasão muçulmana também é um dos supostos causadores da destruição da famosa biblioteca. Segundo essa teoria, a Biblioteca de Alexandria teria caído pelas mãos do califa Omar, quando seu exército invadiu a cidade em 640 d.C.
Porém, outras hipóteses defendem que a biblioteca começou a sucumbir muito antes, devido à falta de investimentos, ou que ela teria sido atacada pela Igreja Católica.
Todas as hipóteses acima contêm registros históricos que as embasam, porém nenhuma delas possui provas suficientes para definir quem foi o real culpado pela destruição da maior biblioteca do mundo antigo.
Um recomeço: a nova Biblioteca de Alexandria
Em homenagem à antiga Biblioteca de Alexandria, foi construída em 2002 a Bibliotheca Alexandrina. Assim como a antiga, esta também funciona como centro de pesquisa, contendo laboratórios, museus, auditórios, um planetário, além de um grande acervo.
Atualmente, a Bibliotheca Alexandrina é a maior do Egito e contém a maior coleção digital de manuscritos históricos do mundo.